maio 29, 2020

E se...

Hoje seria aquele dia de ampolas verdes geladinhas.
Seria o dia de abraços e sorrisos largos.
Hoje seria aquele dia de bordões inesquecíveis ditos em forma de grito alegre.
Hoje seria os 30 anos em uma noite.

Mas tudo isso foi freado.
Por uma onda de medo e morte que veio do Oriente e se mostrou até o Ocidente.
Nós, que estudamos tudo para salvar vidas não aprendemos como reagir quando um de nós se vai.

Está tudo tão fora do controle.

E os sinais de descontrole são claros: a gente perde a paciência, grita, bate a porta, gasta dinheiro com compra online, come para se alegrar, bebe para anestesiar, entristece, foge, nega, fecha os olhos, chora. A gente se irrita com o outro, mas nem é o outro. É só a gente que não tá inteiro, nunca mais estará.

Falta a lembrança do último abraco, do último sorriso, do ultimo "cutucão" abaixo da costela.

Foi negado a oportunidade do adeus.
Foi negada a chance do último fôlego espontâneo.
Foi negado o direito de falar.
Nessa ditadura sistemática onde o mais vulnerável sempre é o menor na cadeia social, o não vira padrão. O sim é exceção.